Será que vale a pena ser médico em Portugal?
Muita gente sonha em sair do Brasil para exercer a medicina na Europa, e Portugal acaba sendo um dos primeiros países que vêm à mente. Afinal, a língua é a mesma, o clima é parecido, e parece um caminho mais fácil, certo?
Errado. A realidade é que revalidar o diploma médico em Portugal pode ser um grande “trocar seis por meia dúzia”. O salário não é muito melhor, a carga de trabalho não é tão diferente, e o processo de revalidação é demorado e burocrático.
Se for para passar por tudo isso, é melhor olhar para outros países que oferecem mais vantagens, como Itália, Espanha ou Reino Unido.
1. Salário de médico em Portugal: não é nada impressionante
Se você pensa em ir para Portugal para ganhar melhor, a realidade pode decepcionar. O salário dos médicos no país não é alto quando comparado com outros países europeus – e, dependendo do seu cenário no Brasil, pode até ser uma piora.
Médico residente em Portugal: recebe entre €1.500 e €1.800 líquidos.
Médico especialista no sistema público: começa com cerca de €2.200 líquidos e pode chegar a €3.500-4.000 depois de muitos anos.
Médico no setor privado: pode ganhar mais, mas precisa ter uma rede de contatos e muitas vezes precisa trabalhar em múltiplos hospitais para manter uma boa renda.
Agora, comparando com o Brasil:
Médico residente no Brasil: bolsa de R$ 4.100 (cerca de €750), o que é menos e não precisa revalidar. Mas o difícil é passar na residência né?
Médico especialista no Brasil: dependendo da carga horária e especialidade, pode ganhar de R$ 15.000 a R$ 30.000 por mês (entre €2.800 e €5.600).
Ou seja, se o critério for salário, a vantagem de Portugal não existe. Se for para ganhar pouco, é melhor continuar no Brasil, onde você já tem sua formação reconhecida e não precisa passar por anos de incerteza tentando se encaixar no mercado de trabalho europeu. Agora se você for só generalista aí é outros quinhentos…
2. A revalidação é mais difícil do que parece
Muita gente acha que revalidar o diploma em Portugal é fácil porque falamos a mesma língua. Mas não é bem assim. O exame para equivalência do diploma envolve provas teóricas e práticas, além de uma análise burocrática do histórico acadêmico.
E mesmo que você passe por todas essas etapas, ainda tem a questão do mercado de trabalho. Muitos médicos estrangeiros enfrentam dificuldades para conseguir vagas no sistema público e acabam tendo que buscar alternativas no setor privado, que não é tão estável quanto parece.
3. Formação médica em Portugal x Brasil
A graduação em medicina em Portugal dura 6 anos, assim como no Brasil. Mas tem uma diferença: o último ano na faculdade é mais teórico, e o médico formado não pode atuar diretamente como médico.
Para poder trabalhar, o recém-formado precisa fazer um Ano Comum, que é como um estágio obrigatório antes de entrar na residência médica. Ou seja, mesmo depois de passar por toda a revalidação, pode ser que você ainda precise fazer mais um ano de trabalho antes de conseguir atuar de fato.
Enquanto isso, no Brasil, um médico recém-formado já pode trabalhar, prestar concursos e fazer plantões, ganhando experiência prática muito mais rápido.
4. Qualidade de vida: é realmente melhor?
Aqui vem um ótimo argumento que poderia justificar a mudança: qualidade de vida. Portugal tem mais segurança, um custo de vida relativamente acessível e um ritmo de vida mais tranquilo.
Se o objetivo for ter mais tempo livre e um salário justo, Portugal pode não ser a melhor escolha. Muitos médicos no país precisam trabalhar em múltiplos empregos e fazer plantões extras para manter um padrão de vida confortável.
Agora, se você realmente quer uma experiência médica na Europa, vale mais a pena considerar outros países, como:
Itália: salário melhor para médicos, revalidação possível e sistema de residência estruturado.
Espanha: apesar dos salários médios, há muitas vagas de residência disponíveis e um sistema organizado.
Reino Unido: exige um bom inglês e certificações específicas, mas paga muito melhor do que Portugal e tem mais oportunidades.
Se for para passar pela burocracia de revalidação, que seja por um país que ofereça mais retorno financeiro e profissional.
Vale trocar seis por meia dúzia?
Revalidar o diploma em Portugal pode parecer uma solução fácil, mas na prática, não vale tanto a pena assim. O salário não é muito melhor que no Brasil, a revalidação é demorada e, em muitos casos, a qualidade de vida vem acompanhada de uma carga de trabalho que pode não compensar.
Se o plano é sair do Brasil, o ideal é mirar países que ofereçam melhores oportunidades financeiras e profissionais, como Itália, Espanha ou Reino Unido.
Então, antes de embarcar nessa ideia, vale a pena se perguntar: será que estou realmente melhorando minha carreira, ou só mudando de país para continuar enfrentando os mesmos desafios?